Luciano Moreira é médico formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Fez residência médica em otorrinolaringologia no Hospital Pedro Ernesto - UERJ e foi estagiário bolsista em cirurgia otologia do Institut Portmann, em Bordeaux. Atualmente, é médico do Hospital São Vicente de Paulo, no Rio de Janeiro, e responsável pelos Implantes Cocleares da Equipe Sonora. Também mantém ativo o Otoblog, com divulgação semanal de textos com temas em reabilitação auditiva e implante coclear. Confira a seguir suas explicações sobre os critérios acerca da idade mínima para que uma criança possa receber o IC.
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“Existe uma idade mínima para receber o implante coclear?
A resposta para essa pergunta é sim e não, e simboliza o contraste entre duas realidades distintas no sistema de saúde brasileiro. Nos centros de implante coclear credenciados ao SUS há uma idade mínima estabelecida de 12 meses de vida para a cirurgia, exceto casos de ossificação da cóclea pós-meningite. Já nos sistema de saúde complementar, não há a regra da idade mínima, sendo essa estabelecida seguindo as considerações abaixo.
A introdução do teste a orelhinha na prática diária dos serviços de saúde em nosso país - mesmo ainda não abrangendo toda a população - vem desempenhando um papel muito importante na detecção precoce da surdez. Essa necessidade de diagnosticar a surdez o quanto antes vem de encontro a dois conceitos muito bem estabelecidos:
Assim, fica claro que a idade ideal para se fazer o implante coclear no bebê com surdez congênita severa a profunda seria "o quanto antes". O problema é que nessa equação surgem outros dois fatores: a confirmação do diagnóstico e o tamanho (peso) da criança.
Do ponto de vista diagnóstico, precisamos ter certeza do grau e da irreversibilidade da surdez, seja através exames comportamentais, seja com os potenciais evocados (BERA). Essa precisão diagnóstica pode ser um desafio mesmo para os audiologistas mais experientes, e isso às vezes leva meses.
Sobre o peso do bebê, não podemos esquecer que o implante coclear é inserido através de uma cirurgia, sob anestesia geral. O risco relacionado a esses procedimentos é maior, quanto menos peso a criança tiver. Uma perda sanguínea que seria desprezível para um adulto ou uma criança maior, acaba podendo desestabilizar o sistema cardiovascular de um bebê muito pequeno, representando um grande risco.
Desta maneira e levando todos esses dados em consideração, cirurgiões dos diferentes países costumam estar de acordo que, embora do ponto de vista da linguagem, o ideal seja implantar "o quanto antes", é quase sempre impossível faze-lo antes dos 6 meses de vida. Outro ponto que tende a ser consenso é que o ideal seria fazer o implante até um ano de idade. Assim, embora a realidade social brasileira raramente nos permita, na prática a menor idade para o implante coclear circula entre os 6 e 9 meses.
Luciano Moreira - Otorrinolaringologista
CRM-RJ 65192-3
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