No mês de agosto de 2016, a futura usuária de Implante Coclear Jacqueline Heloise Santos de Santana contou a sua história aqui na Coluna ADAP. Na época, ela estava terminando de realizar os exames necessários para ser aprovada em um Centro de Implante SUS a fim de receber o IC. Hoje, ela retorna à Coluna ADAP para nos contar sobre o processo da cirurgia, da ativação e de suas novas experiências com o implante. Confira a seguir o seu relato!
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“Minha História – Parte 2
Chamo-me Jacqueline Heloise, tenho 36 anos, sou paulista de Presidente Prudente/SP, sou deficiente auditiva bilateral (perda neurossensorial severa a profunda desde os meus cinco anos de idade devido a uma meningite) e agora também sou recém-implantada do IC (Implante Coclear) pelo Hospital de Reabilitação e Anomalias Craniofaciais, mais popularmente conhecido como Centrinho de Bauru/SP.
Como contei a minha história aqui na página da ADAP antes de ser implantada, hoje vou contar a minha vitória sobre o silêncio que me acompanhou por exatos 30 anos. Na época em que escrevi a história, eu estava na luta constante para conseguir fazer o implante. Depois de muitos exames, consultas e conversas com fonoaudiólogos, psicólogos, médicos otorrinolaringologistas, eles chegaram a conclusão que eu estava “quase” apta para a cirurgia, mas faltava apenas um exame que mudaria toda a minha vida. Eu fiz a última ressonância magnética da minha vida (digo assim porque, depois do implante, não poderei mais fazer esse tipo de exame) e a tomografia computadorizada. Esses exames foram cruciais pois revelariam se eu estava apta ou não ao IC.
Quando levei os exames ao hospital, tive que esperar por mais três meses para remarcar a próxima consulta, para que os médicos avaliassem os exames e chegassem numa conclusão. Eu já estava quase perdendo as esperanças, achando que a demora era porque não tinha dado certo, mas se fosse isso mesmo, eles me informariam para voltar lá no Centrinho para conversar. Um dia, me enviaram um e-mail. Foi no dia 06/02/17, eu estava no trabalho e sempre abro meus e-mails, e vi lá a mensagem do CPA (Centro de Pesquisas Audiológicas) que eu tinha uma nova consulta agendada para o dia 07/03/17 e com 10 dias de permanência em Bauru para “provável cirurgia”.
Congelei na hora! Fiquei super feliz! Logo enviei a resposta para pedir mais detalhes, porque eu não estava acreditando... Que benção, meu Deus! Eu tinha conseguido a cirurgia para o dia 13/03/17 (um pequeno detalhe, o número 13 é meu número da sorte. E que sorte!), numa segunda-feira. A felicidade estava tomando conta de mim naquele momento. Eu logo contei para os meus colegas de trabalho e para o meu chefe que o dia da cirurgia havia chegado, e todos ficaram felizes e esperançosos. Chegando em casa, contei para o meu marido Oscar, que ficou feliz por mim e me falou que, se estava demorando antes, seria porque o momento era agora.
Tratei logo de organizar tudo em casa e no trabalho. Avisei a família, meu pai chorou de emoção e não estava acreditando que a filha dele ia fazer o Implante Coclear na esperança de ouvir de novo. Ele falou da mamãe, disse que ela também estava feliz por mim onde ela estivesse agora, e eu logo pensei que queria muito ela aqui vivendo tudo isso junto comigo, vendo a minha vitória por ter conseguido a cirurgia, pois ela também fez parte de tudo isso, foi a minha maior incentivadora, de sempre buscar o melhor para mim, de nunca desistir de lutar. Mas sei que lá de cima, em algum lugar, ela sempre estará olhando por mim.
Quando faltava uma semana para a viagem, eu já havia arrumado as malas de tão ansiosa que fiquei, e quando finalmente chegou o dia da viagem eu e meu esposo partimos para Bauru às três horas da madrugada e chegamos às sete da manhã no Centrinho, ansiosos por respostas. Ouvimos do Dr. José Carlos Jorge que eu tinha conseguido mesmo o implante, mas que seria somente para o ouvido esquerdo, pois a minha cóclea direita se encontra totalmente calcificada e sem respostas de audição. Por esse motivo, vocês acham que eu fiquei triste? Não! Fiquei super feliz, saí de lá do consultório com um sorriso no rosto, fé em Deus e aguardando a minha cirurgia.
No dia 12/03, num domingo ensolarado, me internei às 15h30 depois de muitos exames pré-operatórios positivos, entrevistas com equipes do hospital responsáveis pelo Implante Coclear e decisão tomada para fazer a cirurgia. Senti uma calma e tranquilidade ali, todos me desejando boa sorte. O meu marido Oscar me acompanhou em todo o momento, desde o primeiro dia no Centrinho, quando tudo começou. Ficou o tempo todo do meu lado até que, na madrugada de segunda-feira, às 5h30, acordei para o banho e fui para o pré-anestésico, onde eu simplesmente apaguei... Acordei já no quarto e com a cabeça enfaixada, a cirurgia tinha sido um sucesso, e depois de dois dias fui para casa. Começou a maratona da recuperação, e confesso que foi difícil no começo, pois fiquei com os ombros totalmente paralisados por causa do efeito da anestesia e da cirurgia, mas aos poucos foi melhorando. Após a cicatrização, recebi um e-mail do dia e horário da ativação e aguardei.
No dia 17/04, voltei a Bauru no CPA (Centro de Pesquisas Audiológicas) do Centrinho para a tão esperada ativação. Quando isso aconteceu ouvi um barulho parecido com o motor de um caminhão, um som estranho entrando na minha cabeça. Fiquei emocionada só de ouvir esse barulho, embora tenha incomodado bastante no começo, pois ainda é uma fase de adaptação sonora, por isso não pude ouvir nitidamente nos primeiros dias. Mas com o passar dos dias, estou descobrindo os mais variados sons. Já estou conseguindo identificar alguns deles: os latidos de cachorros, carros, motos, micro-ondas, televisão, o toque do telefone celular (quando ouvi este, fiquei chorando o dia todo de emoção. Nunca tinha ouvido o toque do telefone, gente!), o barulho das conversas das pessoas e, finalmente, consegui neste último instante ouvir o barulho da chuva e dos trovões. Senti uma emoção fora do comum, uma felicidade, pois isso é uma grande dádiva divina voltar a ouvir de novo.
Minha família, amigos e colegas do trabalho estão todos muitos felizes pela minha recuperação e também na adaptação. Confesso que algumas pessoas não compreendem que leva um tempo para se adaptar e também entender mais nitidamente os sons que ouço, mas eu explico para elas, com toda a paciência, que é um processo de reabilitação auditiva e que leva tempo, paciência e dedicação nas fonoterapias para chegar ao som, e que ainda tem muitos caminhos a percorrer, mas eu chegarei lá. Digo que a vitória eu já conquistei, e ela não é só minha, mas de Deus, pois sem Ele, sem a força e a coragem que Ele me dá todos os dias, eu não conseguiria chegar aonde cheguei. E essa vitória também é das pessoas queridas aqui na minha cidade, que me ajudaram a realizar esse sonho. Ainda terei mais histórias para contar pela frente, portanto, deixo aqui o meu até breve... Aproveito para agradecer a minha amiga querida Ana Raquel Périco Mangili, que é a colaboradora dessa página, pelo carinho e oportunidade de contar a minha história na Coluna ADAP. Muito obrigada a todos!
Jacqueline Heloise”.
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