A história de Aparecida Sousa Gomes

Neste mês, a Coluna ADAP apresenta a história de Aparecida Sousa Gomes, moradora de Goiânia/GO, implantada bilateralmente em Bauru/SP e associada ADAP. Aparecida perdeu a audição em 1992, devido a uma meningite, e possui uma trajetória cheia de desafios. Acompanhe a seguir seu relato.

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 “Eu, Aparecida, nasci em uma cidade do interior de Goiás. Lá vivi por 15 anos, era uma criança normal e ouvia bem. Quando fiz 16 anos, no dia 10 de janeiro de 1992, oito dias depois tive uma febre muito forte. Logo começou a aparecer muitas manchas, se espalhando rapidamente pelos meus braços e pernas.

Fiquei com tonturas e perda de memória, não reconheci minha própria mãe ao chegar ao hospital, onde fiquei internada por três dias. Após esse tempo, o médico da cidadezinha disse à minha mãe: “Vou ter que enviar sua filha para a capital em busca de recursos, porque o estado dela é grave, mas a senhora deve se preparar, porque eu não sei se ela voltará com vida”.

Foi um período muito triste para minha mãe, que teve de deixar em casa os meus seis irmãos menores para me acompanhar à capital. Eu estava em coma, nem sequer sabia o que estava acontecendo. Cheguei à Goiânia, onde fiquei por 60 dias internada. Eu estava com meningite meningocócica, o médico disse que fiquei oito dias em coma. Quando acordei, ainda não reconhecia ninguém, nem mesmo a mamãe que estava do meu lado Fiquei assim por uns 10 dias, depois voltei a reconhecer todos que estavam na minha presença, mas não ouvia. Desde que voltei do estado de coma, estava surda, a não ser por um enorme zumbido, parecendo uma cachoeira, que eu sentia pavor em ouvir.

Também estava com um monte de bolhas nas mãos, nos braços nas pernas, e o pé então, tinha uma enorme bactéria, que foi preciso tirar com uma cirurgia. O dedo do pé foi amputado devido a isso. Passei 40 dias no hospital, depois fui transferida para outro a fim de realizar as cirurgias, e lá fiquei mais 20 dias. Finalmente tive alta, foi um alívio para mamãe, mas para mim estava quase do mesmo jeito. Não fui para minha casa, e sim para a casa de uma tia, que cuidou de mim. Só consegui andar novamente em julho de 1992, mas continuava surda e com o terrível zumbido.

Depois de seis meses, voltei aqui em Goiânia para fazer outros exames que o médico havia pedido. O doutor viu minha audiometria e disse para eu guardá-la, que talvez eu poderia voltar a ouvir algum dia.

Eu voltei a morar, como de costume, com meus pais, sofrendo muito. Para mim, aquela época era uma tortura, só entendia a minha mãe, ninguém mais. Comecei uma vida estranha em um mundo que eu nunca imaginei que houvesse. Eu estava muito revoltada, ninguém mais me entendia, eu trabalhava muito para tentar ser útil. Nesse mesmo período, engravidei da minha filha mais velha, e fiquei solteira. Ela foi meu melhor e maior presente que Deus me deu. Em meio destes problemas todos, até hoje minha filha está sempre ao meu lado para o que der e vier, então lutei por ela. Tentei dar o melhor de mim, para que ela entendesse que eu, mesmo não ouvindo, a compreendia muito bem.

 Durante a gravidez, eu passei o maior tempo na casa de uma amiga, que me ajudava a entender como se cuidava de um bebê. Ela era casada e não tinha filhos, mas era uma pessoa caridosa, com um coração bom. E assim eu aprendi a cuidar de minha filhinha, a colocava todas as noites para dormir comigo até os três anos de idade. Depois fomos obrigadas a nos separar, porque eu precisei ir morar em Brasília e não pude levar minha filha lá. Chorava todas as noites por ela, minha única razão de viver.

Quando cheguei em Brasília, as coisas melhoraram um pouco, eu fui bem tratada por muitas pessoas e ninguém via meu problemas a ponto de me deixar isolada. Fiz muitas amizades, principalmente com uma vizinha. Essa senhora me tratava com se fosse sua filha, me convidava a passar fins de semanas com ela, até que, em um dia, ela me disse que ia me levar em um médico da cidade e conseguir um aparelho para mim.

Fui com ela e o doutor me disse para eu não desistir de voltar a ouvir, que eu devia ir ao Centrinho de Bauru/SP para tentar fazer um Implante Coclear. Mas, antes que eu pudesse descobrir como ir a São Paulo em busca do implante, fui demitida de onde trabalhava por brigar com uma moça que vivia me discriminando por ser surda. Depois de voltar para minha cidade, uma semana depois fui a Brasília para me encontrar com aquela senhora que sempre me ajudou, e ela conseguiu um novo emprego para mim. Mas, no fim, não deu muito certo, passei novamente por situações de discriminação e voltei para minha cidade de vez.

Eu orava a Deus, em prantos, todas as noites, pedindo meus ouvidos de volta, pois eu precisava muito deles para conseguir um emprego para sustentar minha filha, já que eu sempre fui mãe e pai dela ao mesmo tempo. Mas eu era bem confiante, dizia a mim mesma que um dia eu iria ter tudo: meus ouvidos de volta, um marido e mais filhos, e iria lutar por tudo isso.

Então eu encontrei um novo emprego, na casa de um senhor viúvo, que também tinha uma filha com deficiência física. Lá eu fui bem tratada e respeitada. Fiquei dois anos nesse emprego, até que conheci o meu ex-marido e me casei. Conheci também uma senhora que tinha um neto que fazia tratamento para o palato em Bauru, e aí decidi finalmente ir atrás de receber um Implante Coclear.

 Eu me casei ainda sem ouvir. Só depois de seis meses de casada é que minha cartinha de comparecimento chegou para que eu fosse até Bauru. Eu fui lá pela primeira vez para me consultar. Depois, voltei para casa, e em seguida me ligaram no número da minha sogra, dizendo para ela me dar um recado de que eu precisava voltar para Bauru na semana seguinte, para fazer exames. E aí começaram os problemas no meu casamento, por causa dessas viagens que eu tinha que fazer ao centro de implante, e meu marido não aceitava nem me apoiava. Chorei muito, mas decidi continuar com o preparatório para a cirurgia de implante, mesmo que me custasse meu casamento.

No dia da cirurgia, em abril de 1999, meu marido resolveu ir junto e a gente voltou a se dar bem por um tempo, tivemos dois filhos. Mas, desde o momento em que voltei a ouvir, as brigas no casamento retornaram também, junto com outras dificuldades que provocaram nossa separação.

Em abril de 2016, resolvi fazer meu segundo Implante Coclear, também em Bauru, para evitar ficar sem ouvir se o meu primeiro aparelho quebrasse, já que ele é antigo e sofreu desgastes com o passar do tempo. Hoje, estou ouvindo muito bem. Adoro músicas, principalmente as internacionais, românticas e sertanejas. Sou apaixonada também por livros, chego a ler 12 livros por ano.

Posso dizer a todos que hoje sou feliz e creio que tudo na vida de uma pessoa tem um propósito. Devemos tentar, lutar e correr atrás dos nossos sonhos sempre.

Aparecida Sousa Gomes”.

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