A Coluna ADAP está de volta, e hoje apresentamos a história do associado da ADAP Abel Luís Lottermann, que foi a primeira criança a receber um Implante Coclear pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no estado do Rio Grande do Sul em 2001. Acompanhe a seguir o relato feito pelo próprio Abel
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“Meu nome é Abel Luís Lottermann, nasci em 07 de agosto de 1996 no Hospital Sagrada Família, em São Sebastião do Caí (RS). Moro com meus pais no interior da cidade de Harmonia (RS), que fica localizada a 80 km de Porto Alegre (RS). Sou filho de Rudi José e Inês Cecília Lottermann. Sou irmão-caçula dos cinco filhos que a mãe tem.
Na 2ª semana de gravidez, minha mãe foi contagiada por rubéola através de um dos meus irmãos mais velhos, o mesmo sendo contagiado pelos colegas dele no colégio particular naquela época. Esta doença se espalhou por umas partes do meu corpo, ainda na barriga de minha mãe. Com a gravidade da doença, os médicos analisaram, descobriram e disseram que eu não teria condições de viver por muito tempo. Assim, perguntaram a minha mãe se ela desejaria abortar. Com convicção e fé, ela decidiu não abortar e que queria cuidar de mim, mesmo eu não tendo condições de vida “saudável”.
Às 11 horas e 45 minutos do dia 7 de agosto de 1996, nasci frágil. Com pressão baixa, febre bem alta, surdez profunda bilateral e problemas no coração, fiquei 10 dias no Hospital Sagrada Família, em São Sebastião do Caí. Aos meus um ano e 19 dias de idade, foi feita uma cirurgia para suprir o sopro e a veia aberta no Hospital São Francisco, em Porto Alegre (RS). Desde os primeiros meses de vida até aos oito anos de idade, fui acompanhado pelo médico do Hospital Santo Antônio, também na mesma cidade, para analisar a vida do meu coração e, depois disso, fui liberado para praticar diversas atividades.
No dia 14 de dezembro de 2001, foi feito o Implante Coclear no meu ouvido esquerdo. Com o sucesso da cirurgia, fui declarada a primeira criança com a cirurgia paga pelo SUS no Rio Grande do Sul. Dois meses depois, recebi o aparelho auditivo Nucleus 24 da marca Sprint, com muita felicidade.
Quando comecei a escutar pela primeira vez com o aparelho auditivo Nucleus 24, tive a sensação de que o som estava quase explodindo no meu aparelho auditivo e queria tirar. Mas minha mãe insistiu em ficar com o aparelho para que eu pudesse ter a chance de me adaptar. Aos poucos, fui me adaptando e escutando cada vez melhor com o acompanhamento das fonoaudiólogas de São Sebastião do Caí e de Porto Alegre. Com elas e com o apoio da minha família, minha voz e minha escuta fluíram muito bem, apesar de eu ser implantado um pouco tarde, em comparação com a idade em que implantam as crianças hoje em dia.
No ano de 2003, comecei a estudar na 1ª série (2º ano) e concluí o Ensino Médio em 2013. Foram 10 anos de estudo mais o jardim de infância, e todos esses estudei numa escola pública. O ano mais difícil do estudo foi, justamente, no ano de 2013, pois apresentei dificuldades em algumas matérias e corri risco de não passar de ano. Mas nos dois últimos anos de estudo no Ensino Médio, os professores me ajudaram bastante a superar dificuldades em algumas disciplinas.
No ano de 2013, recebi o novo aparelho chamado Nucleus 5 para a substituição do velho Nucleus 24, para escutar e falar melhor. Com o novo, fluiu mais ainda a minha voz, sem grandes acompanhamentos das fonoaudiólogas, e pude escutar melhor nas conversas dentro de um ambiente com barulho, ainda que eu tenha pequenas dificuldades.
Atualmente, trabalho na Fábrica Doces Ledur em Tupandi (RS) desde o ano passado (janeiro de 2017). Esse é o meu primeiro emprego com carteira assinada. Tenho bom relacionamento com a empresa e com os meus colegas de serviço.
Por fim, quero agradecer a Deus pela oportunidade de falar e escutar, aos pais pelo incentivo e apoio, às demais pessoas pelo apoio e ajuda, às fonoaudiólogas pela ajuda na voz e na escuta para superar os desafios propostos, e aos médicos por cuidarem bem dos meus ouvidos. Muito obrigado!
Abel Luís Lottermann”.
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